
Estudos vão definir futuro da BR-319
Manaus — Em visita à capital amazonense na segunda-feira (21), a ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva, reafirmou que a recuperação da BR-319 — rodovia que liga Manaus (AM) a Porto Velho (RO) — depende da realização de estudos técnicos que comprovem sua viabilidade ambiental. Segundo a ministra, a decisão sobre a pavimentação do trecho central da estrada será tomada com base em uma Avaliação Ambiental Estratégica (AAE), que considera impactos em toda a área de influência da rodovia.
“Não se trata de ser contra ou a favor da BR-319. Trata-se de fazer da forma correta, com responsabilidade e base científica. Os estudos vão dizer se é viável ou não”
Marina Silva
A ministra anunciou a criação de uma comissão interministerial, coordenada pela Casa Civil, que reunirá os Ministérios do Meio Ambiente e dos Transportes. O grupo terá como missão elaborar a AAE e propor um modelo de governança socioambiental para ordenar o uso da terra na região.
Estudos em faixa de 100 km
A Avaliação Ambiental Estratégica abrangerá uma faixa de 100 quilômetros — 50 km de cada lado da rodovia — e deverá considerar aspectos como desmatamento, ocupação irregular, impactos sobre comunidades tradicionais e riscos sanitários.
Marina destacou que o ministro dos Transportes, Renan Filho, concordou com a realização dos estudos, o que representa um avanço na articulação entre os dois ministérios.
“É um procedimento de responsabilidade. Já fizemos isso na BR-163, e conseguimos proteger a floresta e garantir o desenvolvimento”
Licença suspensa e pressão política
A visita da ministra ocorre dias após o Tribunal Regional Federal da 1ª Região suspender novamente a licença prévia para a repavimentação do trecho central da BR-319. A decisão atendeu a um recurso do Observatório do Clima, que alertou para impactos ambientais já em curso, como a abertura de ramais ilegais por grileiros.
A suspensão reacendeu críticas de políticos locais, que acusam o governo federal de atrasar o desenvolvimento do Amazonas. Marina Silva, no entanto, rebateu as acusações e pediu que sua atuação seja vista como uma busca por soluções sustentáveis.
Pesquisadores alertam que a pavimentação da BR-319 pode desencadear uma explosão de desmatamento na região mais preservada da Amazônia. O biólogo Lucas Ferrante, da Universidade Federal do Amazonas (UFAM), aponta que a obra pode afetar os chamados “rios voadores” — massas de ar úmido que regulam o clima — e até liberar patógenos perigosos.
A ministra reconheceu os riscos e reforçou que qualquer decisão será tomada com base em evidências científicas. “Não podemos repetir erros do passado. A floresta é um ativo estratégico para o Brasil e para o mundo”, disse.
A presença de Marina Silva em Manaus foi marcada por forte esquema de segurança, com escolta da Polícia Federal. A medida foi adotada após manifestações contrárias à atuação da ministra em relação à BR-319.
Apesar da tensão, Marina manteve o tom conciliador e disse estar aberta ao diálogo com lideranças locais, desde que o debate seja pautado pela ciência e pelo interesse público.
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